As Raízes do Rock Brasileiro

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A música brasileira, conhecida pela sua diversidade e ritmo, tem muito em comum com uma das maiores exportações culturais do Reino Unido: o Rock brasileiro

A música brasileira é, frequentemente, mais associada a gêneros como Samba, Bossa-nova e a Tropicália. Sons regionais, tais como o lundu, maracatu, forró e sertanejo são menos conhecidos. Tudo tende a ficar agrupado sob a abrangente categoria de “música do mundo”. E o cenário do rock ‘n’ roll no País fica um pouco relegado, internacionalmente falando, às rádios especializadas e aos nichos específicos das gravadoras.

“Sou sensível aos valores tradicionais, mas os prazeres das experiências me seduzem como as sereias seduziam os marinheiros antigamente”. As palavras do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, capturam a essência deste novo desenvolvimento musical no Brasil, onde as fronteiras entre o samba e o rock, raízes e pop, Bahia e Londres estão se misturando cada vez mais.

Em outubro de 1955, Nora Ney gravou Ronda das Horas, uma versão do clássico do Bill Halley, Rock Around the Clock, abrindo caminho para o novo “som subversivo” americano, para ídolos do rock local como Cely Campello e Sérgio Murilo. Um pouco mais tarde, esse gênero musical inspirou o movimento da Jovem Guarda e lançou as carreiras de Roberto Carlos e Erasmo Carlos.

Um som verdadeiramente original nasceu em 1968, quando Caetano Veloso escreveu Tropicália. E a Bossa-nova foi substituída pelo Tropicalismo, pela guitarra eléctrica, uma orquestra experimental e a música de Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa, Os Mutantes e Rogério Duprat. O movimento teve o seu ápice quando Caetano e Os Mutantes cantaram É proibido proibir em um festival de música. A música foi recebida com vaias pela multidão, fazendo com que Caetano retrucasse: “Vocês não estão entendendo nada! Nada!”.

A repressão política dos anos 70 foi um tempo difícil para o rock brasileiro, quando a MPB (Musica Popular Brasileira) foi considerada como uma expressão de mais credibilidade no cenário musical do País e o Rock mais como uma novidade estrangeira. Independente disso, por todo o País, ele começou suas próprias raízes nas culturas locais. No norte, p Folk, a música de Alceu Valença, Os Novos Baianos, Fagner, Belchior, Rodrix, Sá e Guarabira representavam a mistura de Rock, Samba e Forró.

Mais ao sul, na Bahia, as influências de Elvis Presley e Luiz Gonzaga eram evidentes na música de Raul Seixas (co-autor com Paulo Coelho nesse momento). Entretanto, a ex-Mutante Rita Lee tinha empreendido uma bem sucedida carreira solo no Rock. Os grupos Os Novos Baianos e Secos & Molhados também alcançou fama com a sua mistura de Rock e Folk.

rock brasileiro | brazilian rockA influência do Punk chegou na década de 80. Vários grupos representativos surgiram em Brasília, Rio de Janeiro, Bahia, Porto Alegre e São Paulo; Barão Vermelho, Blitz, Titãs, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Camisa de Vênus, Engenheiros do Hawaii e Legião Urbana. Todos eles foram bem recebidos pela rádio FM, e cabe mencionar um dos mais bem sucedidos: o músico britânico Richard Court (conhecido no Brasil como Ritchie) que vendeu mais de um milhão de cópias do seu álbum de estreia.

O primeiro festival Rock in Rio, em 1985, fortaleceu a importância comercial do Rock no Brasil.

São Paulo foi onde se deu o Nascimento do movimento Vanguarda Paulista, nos anos 80, no Teatro Lira Paulistana, onde se juntavam artistas como Itamar Assumpção, Rumo, Premeditando o Breque, Língua de Trapo e Arrigo Barnabé, definindo o som experimental da cidade, reinventando a MPB de forma mais teatral e diversificada. A cidade sediou o festival Punk O Começo do Fim do Mundo em 1982, com a participação das bandas Inocentes, Ratos do Porão, Cólera e Olho Seco. Houve também um movimento pós-punk, liderado por grupos como Gang 90 e as Absurdettes, Muzak, Akira S & As Garotas Que Erraram, Cance e Nes, Mercenárias, Smack, Fellini e Voluntários da Pátria. Também nessa época, outro gênero de bandas fazia sucesso: Magazine, Ira!, RPM e Ultraje a Rigor.

Na década seguinte surgiu uma nova geração que se identificou com mais influências internacionais, incluindo o Heavy metal e o Rap, mas também com os ritmos do folclore local como o Baião, o Forró, o Maracatu, o Coco, a Embolada e o Pagode. Semelhante à forma como o The Pogues abraçou a música folclórica irlandesa no Reino Unido, o Brasil tinha os Raimundos, Mestre Ambrósio, Faces do Subúrbio, Mundo Livre S/A, Pato Fu, Virna Lisi, Virgulóides, Planet Hemp e o grande Chico Science & Nação Zumbi.

São Paulo também tinha sua própria vibrante cena underground, que foi fortemente apoiada pela MTV e incluíram performances como Pin Ups, Killing Chainsaw, Mickey Junkies, Okotô e Second Come. Todos eles foram influenciados pelos seus homólogos do pós-Punk no Reino Unido, bem como pelas influências locais de Arnaldo Baptista, Tom Zé e Walter Franco.

Apesar de grande parte da população ter abraçado o Sertanejo, o Pagode e o Axé, sons que continuaram a dominar o cenário da música, surgiram alguns grupos com influências do Rock, tais como Skank, Jota Quest, Mamonas Assassinas, Cidade Negra, Rappa, Charlie Brown Jr. e Los Hermanos, que alcançaram notável sucesso.

O novo século introduziu nas rádios FM grupos de Rock como CPM22, Fresno e NXZero. No entanto, uma nova cena tem crescido paralelamente, com um som que não está mais ligado a apenas uma cidade ou região. É um movimento que já não considera relevante que a música tradicional seja comercial ou ignorada por rádios populares e pela imprensa especializada. Graças a uma rede de festivais de música independente e influentes blogs de música (alguns têm mais de um milhão de seguidores), Far from Alaska, Holger, Autoramas, Aldo a banda e Boogarins, são os novos ares da música que têm uma legião de fãs em expansão, no Brasil e no exterior.


Recomendações

https://www.youtube.com/watch?v=J1x890Fmqkc

Far from Alaska – Dino vc. Dino

 

https://www.youtube.com/watch?v=9suHSaUIrGg

Autoramas – Jet to Jungle

 

https://www.youtube.com/watch?v=iMi_eIj7y6Q

Moxine – Electric Kiss

 

https://www.youtube.com/watch?v=JIgC1dlzs4A

MQN – Get Lost

 

https://www.youtube.com/watch?v=aqBveUYEEwQ

Black Drawing Chalks – My Favourite Way

 

https://www.youtube.com/watch?v=iIVELnrAL1s

Holger – Infinita Tamoios

 

https://www.youtube.com/watch?v=D5f-Mb9dP7U

Boogarins – Lucifernandis

 

https://www.youtube.com/watch?v=d1lhO06z_YM

O Terno – Culpa

 

https://www.youtube.com/watch?v=zVqkS5sNrE0

Apanhador Só – Mordido

 

https://www.youtube.com/watch?v=o9wFWGxGSao

Mombojo – A Missa

 

https://www.youtube.com/watch?v=UshxxT2GglU

Nação Zumbi – Blunt Of Judah

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Sobre o Colunista:

David McLoughlin vive no Brasil há 20 anos, trabalhando na indústria da música local. Entre suas paixões estão cães e boas cervejas.