Nos últimos dois anos, a publicidade brasileira tem feito propagandas que se dirigem ao público LGBT
Parece que há uma nova ordem na publicidade. Agências do mundo todo, incluindo as do Brasil, vêm produzindo campanhas publicitárias que, se não falam diretamente com Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (LGBT), falam com todos, incluindo estes.
No Brasil, este fenômeno começou há pouco mais de dois anos. Em meados de 2014, às vésperas da comemoração do Dia do Orgulho Gay (que, em muitas capitais do Brasil, coincide com o dia ou a semana da Parada Gay), foi ao ar o autointitulado “primeiro comercial com um beijo gay da TV brasileira”. Era um institucional do Movimento Espírito Lilás, onde há uma cena familiar de um casal de homens. Curiosamente, apenas dois dias depois, a fabricante de veículos Fiat colocou no ar a sua campanha, que também tinha um beijo gay – neste caso, de duas garotas. O comercial tratava da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, e se referia às manifestações de junho de 2013, quando a população brasileira “foi às ruas”, exigindo mudanças políticas no Brasil.
Uma série de outras campanhas passou a se referir ao público LGB. A bem da verdade, a maioria não teve grande repercussão. Ou por serem campanhas apenas para mídias digitais, ou mesmo pela discrição das cenas – no comercial da Skol para o Festival Lollapalooza, por exemplo, há um beijo lésbico que dura alguns frames de vídeo, e menos de 1 segundo.
Até que veio a campanha nacional para TV aberta de O Boticário, para o Dia dos Namorados de 2015. Veiculada em horário nobre, no intervalo dos programas de maiores audiências do Brasil, o filme mostrava homens e mulheres comprando presentes para seus/suas companheiros (as) nas lojas da marca e, ao final do filme, percebe-se que os casais eram todos homoafetivos. A repercussão foi imediata. Embora tenha havido um impacto negativo principalmente em algumas entidades de cunho religioso (com igrejas sugerindo aos seus fiéis que boicotassem a marca), a maioria das pessoas aprovou a campanha e apoiou O Boticário. Ou seja, entre perdas e ganhos de clientes, a fabricante de cosméticos teve um crescimento considerável nas vendas.
Este ano, em maio, a mesma onda se repetiu, desta vez com a rede de lojas de varejo C&A. Em sua campanha, ela rebatizou o Dia dos Namorados, como Dia dos Misturados (uma brincadeira fonética, em Português), e sugeriu que cada um usasse a roupa que quiser, independentemente do produto ser masculino ou feminino. O mote é não se preocupar com a opinião alheia, sentir-se livre, vestir-se como quiser. Ou, como diz a assinatura do comercial, “misture, ouse, experimente”. Obviamente, houve muitas críticas, mas foram superadas pelos muitos elogios. Desta vez, com a febre dos vlogs (blogs digitais em vídeo, no YouTube), o volume de manifestações, de ambos os lados, também foi ampliado. Segundo a marca, “o dia 12 de junho é o dia em que o amor se mistura às risadas, ao carinho à cumplicidade, à ousadia, ao estilo, à paixão e à conquista. É o dia de ficar lindo e de estar junto de quem se gosta”.
E qual é o resultado de tudo isso? Que impacto tem na publicidade e na moda? Alguns especialistas alegam que é um risco para as marcas ousarem em campanhas assim, pois é importante que as empresas realmente vivam aquilo que anunciam em suas campanhas. Se, por acaso, algum dia sofrerem alguma queixa ou processo de preconceito, por exemplo, o resultado poderá ser catastrófico, pois a campanha soará como “oportunista”.
O fato é que o mundo está mudando, o Brasil está mudando e, ainda que estejamos todos aprendendo a respeitar as diferenças, desejos, fantasias e vontades alheias, o caminho está apenas começando.
Assista às campanhas inclusivas
Movimento do Espírito Lilás – https://youtu.be/an_h8rxtYvQ – 16/5/2014
FIAT, Vem pra festa, vem – https://youtu.be/3Q8mBTa9xKY – 18/5/2014
Festival Mix Brasil, Todo mundo é gay – https://youtu.be/Z-jV9yVg04c – 4/11/2014
Skol, Lollapalooza – https://youtu.be/WoRdfdCjBbU – 16/3/2015
Melendez/Sonho de Valsa, #PenseMenosAmeMais – https://youtu.be/HYWyzYJhQyk – 12/4/2015
