Inglaterra, do Obscurantismo para o Iluminismo: 50 anos da Lei de Delitos Homossexuais

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Em 5 de julho de 1967, às 5:30 da manhã, foi aprovada a Lei de Delitos Homossexuais, descriminalizando-se atos sexuais entre homens maiores de 21 anos de idade, em ambientes privados, onde e somente se estes dois estivessem de acordo, vigorando na Inglaterra e País de Gales (a Escócia aderiu em 1980 e a Irlanda do Norte em 1982).

Houve muitas mudanças positivas no cenário homossexual após esta Lei  no Reino Unido: em 2004, instaurou-se na Inglaterra a união civil e em 2013 aconteceu o primeiro casamento gay.

Durante a celebração do quinquagésimo aniversário da aprovação da Lei de 1967, está ocorrendo uma série de eventos, shows e exposições como parte do movimento “Orgulho Gay” no Tate Britain, National Theatre, British Library, e em vários locais artísticos por todo o país, com histórias da diversidade de gêneros, preconceitos e orgulho, abrangendo o público LGBT.

Acontecem também, através de vídeos e programas de TV, entrevistas com celebridades gays, como o ator Antony Sher (conhecido pelos excelentes papéis shakespearianos), Bette Bourne (ator transformista e um dos líderes da frente da liberação gay nos  anos 70), o notável ator e diretor de cinema britânico de descendência jamaicana, Rikki Beadle-Blair, e o poeta Andrew Macmillan (conhecido pelas suas obras sobre desejos masculinos). Eles narram fatos anteriores à Lei de 1967 com respeito aos transtornos, punições, intolerâncias, omissões de orientações sexuais, prisões, penas de morte e também falam de acontecimentos positivos posteriores à Lei, tais como tolerâncias, direitos, respeito e maior aceitação ao imenso contingente LGBT.

Por outro lado, o relacionamento lésbico nunca foi considerado ilegal – enfatizando-se a época Vitoriana, quando o lesbianismo era até mesmo tolerável em todas as classes sociais e principalmente entre os aristocratas -, mas podemos destacar artistas, escritoras e poetisas como Adelaide Procter, Matilda Hays, e também a socialite Mary Benson entre outros grandes nomes. E, com certeza, quando se fala de figuras importantes, deve-se mencionar o Dr. James Barry, que escondeu durante toda sua bem-sucedida carreira como cirurgião das Forças Armadas da Coroa, ser na realidade mulher e ter nascido Margaret Ann Bulkley.

Enfim, estamos em 2017 e a celebração do Orgulho LGBT acontece em quase todo o mundo. Este ano, a vigésima primeira celebração em São Paulo, Brasil, contou com uma participação de cerca de dois milhões de pessoas, e foi bem pacífica, muito alegre e transmitiu seu recado, cujo tema foi: “Independente de nossas crenças, nenhuma religião é lei! Todas e todos por um Estado Laico”.

Em Londres a quadragésima quinta celebração do Pride foi aberta pela equipe de policiais, bombeiros e profissionais da saúde nos atendimentos de primeiros-socorros, e teve como tema “Love Happens Here”. Também contou com a participação de milhares de pessoas e importantes celebridades, inclusive com a presença de um dos representantes dos direitos humanos, o ativista gay  Peter Tatchell, a grande personalidade lésbica da mídia britânica Amy Lamé, que no ano passado recebeu o título de ‘Night Czar’, e também do prefeito de Londres, Sadiq Khan, que mostrando grande entusiasmo e apoio, pousou para fotos entre a multidão.

Parabeniza-se a Inglaterra pela sua saída do obscurantismo para o iluminismo, por sua contribuição na tolerância, apoio e respeito à comunidade LGBT.

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Sobre o Colunista:

Ciro de Lima é formado em Letras pela Universidade São Francisco - São Paulo. Vive na Inglaterra há mais de 20 anos, onde cursou Tradução/Intérprete no Goldsmiths College. Também produziu o jornal informativo "Minhoca" para a comunidade LGBT e Simpatizantes. Atualmente estuda Braille em Londres e acha este curso extremamente desafiante.