Qual é o verdadeiro país do futebol?

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Os brasileiros dizem que, pelos cinco títulos mundiais, é o deles. Mas os ingleses, pela história, requerem esta paternidade. Disputa boa!

Os brasileiros, sem importar o sexo, já nascem com o cromossoma do futebol, vem no DNA. Sim, quase toda pessoa nascida no Brasil – a maioria delas – se acha a maioral nas questões futebolísticas, os melhores da galáxia nesse esporte. Bem, nós praticamente nascemos com uma bola de futebol nos pés. Todo brasileiro tem a solução para seu time, sabe qual a melhor escalação para cada jogo, ‘briga’ com locutores, xinga o técnico e dá – mesmo pela TV – instruções aos jogadores durante as partidas, quase batendo na pobre tela que não tem absolutamente nada a ver com isso. Se o time ganha no domingo, usar a camiseta do clube na ida ao trabalho na segunda-feira é quase obrigatório, mostrando o orgulho de ser o melhor naquele fim de semana. Meu amigo, somos mais de 200 milhões de técnicos de futebol. E sim: fui pesquisar a história e tentar dar sentido às centenas de informações lidas.

Vamos voltar um pouquinho no tempo, conhecer algumas curiosidades e saber como o esporte bretão, o mais amado em todos os continentes, desembarcou no Brasil (thanks, Charles Miller!!).

Os primeiros registros de algo minimamente parecido com o futebol foram encontrados na China Antiga, perto do ano 3000 a.C. Após as guerras, os militares chineses formavam equipes para chutar as cabeças decapitadas dos soldados inimigos (que horror!). Olmecas, astecas e maias também se dedicavam ao esporte: uma dúzia de bolas de borracha, com diâmetros entre 10 e 20 cm, foi encontrada em El Manatí, um local sacrificial olmeca. As bolas mais antigas, que são também as menores, datam de 1600 a.C. Para esses povos, o jogo também estava ligado a rituais religiosos e sacrifícios. No Japão Antigo, um jogo chamado Kemari era praticado por integrantes da corte do imperador, e a bola era feita de fibras de bambu (muito melhor que cabeças, não?). Já na Grécia, por volta do século I a.C., os soldados jogavam Episkiros: eram duas equipes de nove jogadores cada, em terreno de formato retangular. A bola era feita de bexiga de boi cheia de areia ou terra. Hernán Cortés, após da conquista dos astecas pelos espanhóis em 1521, levou para a Espanha uma equipe de “jogadores de bola”, que se exibiram para a corte. Imaginem a cara dos aristocratas, fascinados com as bolas de borracha saltitantes e aquele povo exótico correndo atrás! Na Itália Medieval, um jogo chamado gioco del calcio era praticado nas praças: duas equipes de 27 jogadores de cada lado deveriam levar a bola até os dois postes que ficavam nos dois cantos extremos da praça. Já pensaram na confusão com esse monte de gente? Dizem que o gioco del calcio chegou à Inglaterra, e os primeiros códigos britânicos se caracterizavam por terem poucas regras. Apesar de ter se tornado muito popular rapidamente, ainda se destacava por sua extrema violência. Por esta razão, e atendendo às petições de comerciantes que reclamavam dos prejuízos causados pela prática do jogo nas ruas da cidade, em 13 de abril de 1314, foi proibido por um decreto do Rei Eduardo II, sob pena de prisão, alegando ser um esporte não-cristão. Parece que não adiantou muito, não é?

Então, em 1848, em Cambridge, um código único de regras foi estabelecido e definiu o futebol como conhecemos hoje. A figura do goleiro foi criada em 1871; em 1875, o tempo das partidas foi fixado em 90 minutos; e o pênalti apareceu em 1891 (parece que foi para que gerasse a eterna discussão se foi ou não pênalti… A regra que fica subentendida é que se o pênalti é a favor do seu time, ele é legal e justo, mas se for contra o seu time, o juiz é ladrão, rs…).

Outra regra que dá muita discussão é a do impedimento, estabelecida em 1907. Mesmo com a atual tecnologia, câmeras que mostram todos os ângulos, slow motions repetidos à exaustão etc., não é que as brigas continuam? Ah, mas se não tiver discussão, não tem graça…

No Brasil, em 13 de maio de 1888 – curiosamente, o mesmo dia da assinatura da Lei Áurea, a libertação dos escravos no Brasil –, foi fundado o São Paulo Athletic Club (SPAC), o mais antigo da cidade de São Paulo. Como curiosidade extra, um grupo de engenheiros ingleses da empresa Railway pensou em fundar um clube para poder disputar seu jogo predileto, o críquete, e compartilhar algumas horas de lazer com as famílias. Entre eles estava Peter Miller (pai de Charles Miller). Assim nasceu o SPAC. Também em 1888, foi fundada a Football League, para organizar torneios e campeonatos internacionais.

Peter Miller enviou seu filho, Charles Miller (olha ele aqui!), de nove anos, para estudar na Inglaterra. No regresso ao Brasil, em 1894, Charles trouxe na bagagem a primeira bola de futebol e suas regras. Pronto! Perguntem se não foi um sucesso!

A Fédération Internationale de Football Association (FIFA) foi criada em 1904 e, desde 1930, organiza a disputada Copa do Mundo, além de competições entre clubes, como o Mundial de Clubes.

A primeira partida no Brasil, realizada em 15 de abril de 1895, foi entre funcionários de empresas inglesas que atuavam em São Paulo, Companhia de Gás X Cia. Ferroviária São Paulo Railway. No seu início, o futebol era praticado apenas por pessoas da elite, não sendo permitida a participação de negros, resquícios ainda da nossa ex-colônia-portuguesa-escravocrata. O primeiro atleta negro convocado a disputar uma Copa do Mundo, foi Leônidas Silva, em 1934.

Mas e a paixão do brasileiro apareceu como? Como explicar que o futebol seja considerado quase uma religião nessas terras tropicais? Uns dizem que foi depois da Copa de 1950; outros atribuem essa adoração, que beira o fanatismo, a uma consequência do desenvolvimento econômico desses anos. Também há quem jure que o resultado da nossa miscigenação é que nos dá a habilidade e a ginga com a bola… Com certeza, o fato da “Seleção Canarinho” (uma alusão à cor predominante no uniforme oficial do país) ter conquistado cinco títulos mundiais (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002) ajuda, e muito!

E como não se encantar com o futebol-arte de Pelé, Garrincha, Rivelino, Sócrates, Zico, Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo, Roberto Carlos, Neymar, Kaká, Robinho, Daniel Alves, Luís Fabiano, Nilton Santos, Falcão, Taffarel, Roberto Dinamite…? A lista é imensa!

Paixão não se explica. Nosso coração continuará acelerado aos domingos, no sempre lotado Maracanã – o estádio mais conhecido internacionalmente –, nas mesas dos bares em discussões acaloradas, nos 40ºC das areias nas praias de norte a sul desse país gigante. E o grito seguirá, cheio de alegria, ao ver a bola no fundo da rede.

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Sobre o Colunista:

Nascida no Rio, criada nas areias do Leblon e, desde 1997, mexicana por opção. Tem nas filhas Marcella e Isadora a certeza de ter feito algo perfeito na vida.