No terceiro capitulo da nossa viagem pela Islândia, a tão esperada Aurora Boreal…

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E ela deu o ar da graça ….

Vi a Aurora!

Ver não é o termo exato… a gente vive a experiência de ver a Aurora, que é de uma emoção enorme.

Enorme e profunda porque não é fácil vê-la, não é que todos os dias a Aurora aparece. Ela é uma dama esquiva, difícil de se mostrar, depende de vários fatores físicos como o “KP”, o “BZ”, e os gráficos todos, além de mapas precisos indicando onde o céu estará aberto e onde estará nublado.

Mas se você pensa que é só juntar todas essas informações e ir ao local certo, terá muitas decepções ou, quem sabe, alguma surpresa.

Nesses dias de caçada na Islândia, cuja localização é geograficamente perfeita para observá-la, mas meteorologicamente inconveniente, conseguimos vê-la quando todos os índices diziam que ela não viria, e não a vimos quando os aplicativos garantiam que ela estava no céu. Ou seja, é sempre uma espera, um milagre, um momento de excitação.

Ela vem quieta e branca, neste momento você só consegue ver luzes verdes pela objetiva de uma máquina fotográfica, a olho nu parece uma nuvem no céu escuro. Mas quando o KP sobe, o BZ desce e as nuvens se afastam, ela sai riscando o céu, ocupa o palco dançando, verde e rosa, indescritível, só vendo mesmo para entender o que se sente. Não dá para segurar o grito de alegria e as lágrimas por testemunhar uma das magias da Natureza.

E falando em magia e Natureza, lembrei que fiquei devendo uma história, uma das tantas histórias de magia e Natureza na Islândia: a história do Elfos, aqueles que conseguiram sobreviver ao cristianismo.

Eles são parte da mitologia nórdica. Eram divindades menores geralmente mostrados como jovens de grande beleza, vivendo nas florestas, sob a terra, em fontes ou flores, sempre em contato com a Natureza. Tinham poderes mágicos associados a luz, ao sol, a uma longa vida ou a imortalidade.

Eram bons amigos dos islandeses, mas quando o Cristianismo começou a empurrar essa mitologia para debaixo do tapete, eles foram perdendo espaço, diminuindo de tamanho, ficando pequenos como fadas, fadinhas, insetos, grilinhos, e por fim sumiram. Na Islândia eles se tornaram “the hidden people” (em islandês – huldufolk), um povo que existe, mas não se pode ver. Só algumas pessoas conseguem ter contato com os Elfos, que vivem num mundo paralelo ao nosso, muito mais legal, sem frio, sem crises, sem fome e sem dívidas para pagar.

A maior parte das histórias de Elfos que chegaram até hoje são do período medieval, quando os islandeses viviam sob condições climáticas extremas, muito frio, pouca comida, longos invernos com pouquíssimas horas de luz, então eles comiam carne podre de tubarão, liam as SAGAS, e sonhavam com o maravilhoso mundo dos Elfos, já que naquela época não se fabricava o prozac.

Mas isso já é passado, depois de séculos vivendo silenciosa e despretensiosamente entre a pesca no verão e a criação de ovelhas no inverno, a Islândia deixou de ser um país pobre depois do final da Segunda Guerra Mundial. Por sua posição geográfica estratégica, os americanos incluíram a Ilha no Plano Marshall de recuperação da Europa e essa injeção de dólares deu fôlego para a construção de infraestrutura como estradas e pontes, dinamizando a economia.

Porém, nas últimas décadas, o país foi se “financeirizando”, tirando os recursos da pesca e investindo no fictício mercado financeiro, em uma economia completamente privatizada, onde todos se achavam ricos investidores.

E eles foram felizes até 2008, quando a crise financeira quebrou a Islândia. Em poucos dias os bancos privatizados foram a bancarrota, a moeda derreteu, o país colapsou.

Então o povo saiu às ruas, quebrando tudo o que o mercado financeiro não tinha conseguido quebrar, o Primeiro Ministro foi para prisão e se estabeleceu um novo acordo social, com a presença de delegados populares no parlamento para reescrever as leis. O Estado encampou os bancos, declarou moratória para o mercado financeiro internacional, especialmente o inglês, e passou a controlar a economia e os recursos que foram se recompondo. A Islândia apostou no turismo, como principal fonte de ingressos.

Para uma população de 340 mil habitantes, são esperados 2,3 milhões de turistas em 2018. Um desafio e ao mesmo tempo uma excelente oportunidade para se criar um novo modo, sustentável, de se fazer turismo.

Contei como a Islândia quebrou financeiramente na década passada, mas não contei ainda como ela vai quebrar fisicamente, futuramente. E porque é um dos países mais preocupados com as mudanças climáticas e profundamente engajado em práticas sustentáveis.

Conto no próximo capitulo!

Beijos estalantes,

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Sobre o Colunista:

Graduada em História pela Universidade de São Paulo, com 40 anos de experiência na área do Turismo, trabalhou em diversas empresas do setor e morou em Torino, na Itália, por 7 anos. Hoje divide seu tempo entre palestras sobre Viagens e História, cursos e workshops para agente de viagens no Senac e acompanha grupos, em colaboração com algumas Operadoras de Turismo, ao redor do planeta.