A sexualidade no Império Romano

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A milenar história da Itália durante a fase do Império Romano

 

Por centenas de anos, a Itália dominou quase toda a Europa e muito mais além. Quando estudamos seus dirigentes soberanos, enxergamos uma história que nos deixa perplexos pela sua grandeza, sua ostentação e pelo poder de seus imperadores. A vaidade era algo comum entre eles, e alguns homens adoravam se maquiar e usar perfume em abundância. E eles iam além: simbolicamente se casavam uns com os outros e em alguns casos ofertavam um dote ao futuro esposo. De acordo com o historiador inglês Edward Gibbon, “dentre os últimos 15 imperadores romanos, apenas Cláudio era heterossexual” e a homossexualidade e a bissexualidade eram vistas com naturalidade, muito embora atitudes de alguns dos imperadores fossem consideradas bizarras como, por exemplo, as de Júlio César (23 a.C. a 14 d.C.). 

Chamado de “o homem de todas as mulheres e a mulher de todos os homens” e considerado o imperador mais famoso da Antiguidade, César era também conhecido por ser um incorrigível sedutor de mulheres casadas. Ele foi amante de Cleópatra, a rainha do Egito ao mesmo tempo em que também mantinha uma relação íntima com Nicomedes IV, rei da Bitínia, e por causa disso foi apelidado de “Rainha da Bitínia”. Contudo, apesar da fama de César, o imperador Adriano foi considerado o mais respeitado e pacifista de todos. Sua única “fraqueza” foi a enorme paixão pelo jovem grego Antínoo. Depois da morte do jovem, ele casou-se com Sabina, mas Adriano era assumidamente gay. 

E quem nunca ouviu falar de Calígula? Possuidor de uma enorme libido, ele seduzia todas as mulheres dos senadores e abusava sexualmente dos reféns de guerra, porém mantinha um forte romance com o jovem ator de pantomimas chamado Mnester.

Não se pode deixar de citar o imperador Nero: seu reinado foi associado à tirania e à extravagância, sendo por isso considerado o mais excêntrico dos imperadores. Depois da morte de sua esposa Popéia, casou-se com Esporo, um eunuco da corte, proporcionando-lhe as honras de imperatriz. Ao mesmo tempo,  Nero tinha um marido, Pitágoras, e entregava-se a ele totalmente no papel de mulher. 

A influência de médicos, filósofos, políticos  e religiosos induzindo à abstinência sexual dos cidadãos e somada aos fatores socioeconômicos, promoveram a queda do Império Romano. Após a mudança da capital do Império Romano e antes de sua queda final, a Itália entrou em um período obscuro e confuso, perdendo sua ascensão gloriosa que havia mantido por muitos séculos.

No século 14 e 15 inicia-se uma nova era, o Renascimento, e apesar de ainda haver uma grande vigilância na vida privada e, por consequência, na vida sexual dos indivíduos pelo Estado e pela Igreja, este período de transição, predominantemente marcado pela sofisticação  de acontecimentos culturais, movimentos artísticos e  intelectuais, é magistralmente representado em forma de pinturas, esculturas e poesias. Essa nova arte e esse novo pensamento foram inspirados pela Antiguidade Romana, mas seus inspiradores e líderes já não eram mais os imperadores, reis ou príncipes, e sim artistas e poetas, que produziram obras poderosas e influenciadoras, admiradas até os dias de hoje.

Os dois maiores artistas daquela época foram Leonardo da Vinci e Michelangelo. Leonardo, quando jovem, mudou-se para Florença, e lançou-se com paixão ao estudo da arte, das ciências e da cultura. Foi conhecido também por ter mantido inúmeros romances com rapazes de sua idade, o que acabou custando-lhe alguns meses de prisão. Leonardo viveu muito tempo um romance com seu assistente Giacomo Caprotti, um jovem dotado de uma beleza extraordinária, mas também muito indolente, o que lhe valeu o apelido de Salai (pequeno diabo, em toscano). Leonardo foi considerado um artista exuberante e até hoje é reconhecido pelo mundo inteiro como um verdadeiro gênio. Sua obra-prima é a “Mona Lisa”, um retrato de Lisa Gioconda, com quem se dizia que mantinha um romance, porém isso nunca foi provado.

Michelangelo Buonarroti tinha muito em comum com Leonardo da Vinci, inclusive sua bissexualidade. Seus nus masculinos, tanto nas esculturas como nas pinturas, estão entre os mais belos e perfeitos da história Renascentista. Michelangelo morreu com 89 anos, deixando inconsolável Tommaso Cavaliere, seu companheiro de muitos anos. Os sonetos do artista dedicados ao jovem romano são profundamente comoventes e amorosos.

Michelangelo realizou uma das maiores obras-primas da arte ocidental: as pinturas do Juízo Final na Capela Sistina, no Vaticano, nas quais trabalhou ininterruptamente praticamente sozinho durante quatro anos. 

A escultura de David é a mais importante obra renascentista e também a mais conhecida  e admirada até hoje. A grandiosa estátua de mármore representa a figura ideal de beleza masculina, vista pelos olhos e o sentimento erótico de Michelangelo, que esculpiu o corpo musculoso de David com todos os detalhes da anatomia. A perfeição, a expressão facial, a sensualidade, a sensibilidade e a espiritualidade evocadas pela escultura nos transportam para um mundo imaginário, que somente Michelangelo soube alcançar. 


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Sobre o Colunista:

Ciro de Lima é formado em Letras pela Universidade São Francisco - São Paulo. Vive na Inglaterra há mais de 20 anos, onde cursou Tradução/Intérprete no Goldsmiths College. Também produziu o jornal informativo "Minhoca" para a comunidade LGBT e Simpatizantes. Atualmente estuda Braille em Londres e acha este curso extremamente desafiante.