Cais do Valongo é forte candidato a Patrimônio da Humanidade

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O Cais do Valongo era o principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil e nas Américas, e está localizado na região portuária do Rio de Janeiro.

No fim do mês de setembro, o lugar recebeu a visita de um representante do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) – órgão consultivo da UNESCO – para vistoria e avaliação técnica do local, que está cotado como candidato a Patrimônio Mundial.

O sítio arqueológico não só representa o principal cais de desembarque de africanos escravizados em todas as Américas, mas também é o único que se preservou materialmente. Pela magnitude do que representa, coloca-se como o mais destacado vestígio do tráfico negreiro no continente americano. A candidatura foi aceita no fim de 2015 e aguarda agora a avaliação final que acontecerá em junho de 201,7 em Cracóvia, na Polônia.

O título de Patrimônio Cultural da Humanidade será importante para o reconhecimento de um processo único da história que, apesar de negativo, propiciou uma inestimável contribuição dos africanos e seus descendentes à formação e desenvolvimento cultural, econômico e social do Brasil, além do valor universal do local, como memorial a tantos escravos que sofreram, resistiram e se libertaram, fortalecendo as responsabilidades históricas, não só do Estado brasileiro, como de todos os países membros da UNESCO.

Um pouco sobre a história

O Brasil recebeu cerca de quatro milhões de escravos nos mais de três séculos de duração do regime escravagista, totalizando 40% de todos os africanos que chegaram vivos nas Américas, entre os séculos 16 e 19. Destes, aproximadamente 60% entraram pelo Rio de Janeiro, sendo que cerca de um milhão pelo Cais do Valongo. A partir de 1774, por determinação do Marquês do Lavradio, Vice-Rei do Brasil, o desembarque de escravos no Rio foi integralmente concentrado na região da Praia do Valongo, onde se instalou o mercado de escravos que, além das casas de comércio, incluía um cemitério e um lazareto.

O objetivo era retirar da Rua Direita, atual Rua Primeiro de Março, o desembarque e comércio de africanos escravizados. Após a chegada, eles eram destinados às plantações de café, fumo e açúcar do interior e de outras regiões do Brasil. Os que ficavam no Rio de Janeiro, geralmente eram utilizados em trabalhos domésticos, ou nas obras públicas. A vinda da família real portuguesa para o Brasil e a intensificação da cafeicultura ampliaram consideravelmente o tráfico escravagista.

Em 1811, com o incremento do tráfico e o fluxo de outras mercadorias, foram feitas obras de infraestrutura, incluindo o calçamento de pedra de um trecho da Praia do Valongo, que constitui o atual Sítio Arqueológico do Cais do Valongo.

O local foi desativado como porto de desembarque de escravos em 1831, quando o tráfico transatlântico foi proibido por pressão da Inglaterra. E em 1850, pôs-se fim verdadeiramente ao tráfico para o Brasil, até a Abolição da Escravatura, em 1888.

Durante as obras do Porto Maravilha, com as escavações realizadas no local em 2011, foram encontrados milhares de objetos, como partes de calçados, botões feitos com ossos, colares, amuletos, anéis e pulseiras em piaçava de extrema delicadeza, jogos de búzios e outras peças usadas em rituais religiosos. Entre os achados raros, há uma caixinha de joias esculpida em antimônio, com desenhos de uma caravela e de figuras geométricas na tampa.

Em 2012, a Prefeitura do Rio de janeiro transformou o espaço em monumento preservado e aberto à visitação pública. O lugar passou a integrar o Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana, que estabelece marcos da cultura afro-brasileira na Região Portuária.

Assim, em 20 de novembro de 2013, Dia da Consciência Negra, o Cais do Valongo foi alçado a Patrimônio Cultural da cidade do Rio de Janeiro, por meio do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH). Representantes da UNESCO também consideraram o sítio arqueológico como parte da Rota dos Escravos.

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