Gastronomia: Cervejas Artesanais – A cultura cervejeira no Brasil

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A produção de cervejas artesanais está em plena ascendência no País

Jorge Lemann, Carlos Sicupira e Marcel Telles, grandes símbolos do empresariado brasileiro, brindaram a recente aprovação de uma das maiores fusões da história: a união de duas gigantes da cerveja, a Anheuser Busch Inbev com a SABMiller. A empresa emergente passou a representar nada menos do que 30% do mercado de cerveja do mundo, de acordo com a revista Forbes.

A receita de sucesso do grupo remonta ao final dos anos 80, quando adquiriu a cervejaria brasileira Brahma e se expandiu pela América do Sul. Uma série de acordos se seguiu, incluindo a aquisição, em 2008, da norte-americana Anheuser-Busch (famosa pela Budweiser). Os bilionários da cerveja estão entre os mais ricos do Brasil, com Lemann no topo da lista.

Nada mal para um líquido que é, essencialmente, uma mistura fermentada de grãos maltados, adjuntos, lúpulo, água e levedura, mas que figura como uma das bebidas mais consumidas no mundo – ultrapassada apenas pelo chá e pela água. Com uma demanda global crescente, a cerveja é, de fato, um grande negócio.

Tais exemplos de empreendedorismo acabaram pavimentando o caminho para o florescimento de uma nova geração de cervejarias no Brasil, que visam deixar a sua marca em um mercado tradicionalmente saturado. A microcervejaria – produção de cerveja artesanal em pequena escala – está em plena ascendência.

O crescimento do segmento pode ser ilustrado pelos números recordes registrados em um evento em particular: o Festival Brasileiro da Cerveja, realizado no estado de Santa Catarina. Somente neste ano de 2016, a participação cresceu 18% com mais de 41 mil fãs de cerveja rumando para a cidade de Blumenau, conhecida pela sua colonização alemã e um forte destino turístico para os fãs do néctar dourado.

“O Brasil oferece ricas oportunidades em termos de cerveja artesanal, graças a ingredientes locais únicos” – afirma Christian Matias, paulista, especialista em cerveja. “A cerveja é uma parte importante da nossa cultura, então é natural que demos a ela alguns toques tropicais.”

Christian representa uma nova onda de cervejeiros brasileiros que procuram aliar a criatividade à inovação. “Por muitos anos, só havia fracas opções locais ou tínhamos que apelar para as importações, que são muito caras. Por isso, decidi começar a produzir cerveja artesanal caseira”. Christian levou a sua paixão ainda mais adiante: resolveu mudar para o Reino Unido para estudar na Brewlab Brewing Courses Training and Analysis UK, onde recebeu o diploma em Tecnologia de Cerveja.

Como um qualificado sommelier de cerveja pelo Instituto da Cerveja Brasil, ele reconhece que a filosofia do movimento está sendo mais compreendida hoje. “Diversas cadeias de supermercados já trabalham com cervejas artesanais importadas e estão começando a comercializar algumas cervejas artesanais nacionais na tentativa de adentrar um mercado mais exigente”, ele explica. Algumas receitas são surpreendentes: que tal uma stout feita com açaí, ou talvez uma IPA com jabuticaba? Ou até uma pale ale com mandioca?

 

A pale ale com mandioca, a Cauim, é uma cerveja feita pelo lendário Marcelo Carneiro da Rocha, fundador da Cervejaria Colorado, surgida em 1996, em Ribeirão Preto, São Paulo. Ao decidir abrir a cervejaria, Marcelo transformou seu hobby em profissão. Menos de duas décadas depois, em 2015, ele vendeu a marca para o grupo do Lemann. A Colorado agora é comercializada nos Estados Unidos e na França, e é internacionalmente reconhecida pelo seu sabor único e por sua chamativa publicidade.

É graças a esses pioneiros que o gosto da cerveja tem se diversificado nos últimos anos. A ideia de adicionar chocolate ou frutas tropicais, que seria impensável no passado, passou a se tornar comercialmente atrativa e hoje é uma realidade. Visto isso, então por que não adicionar um punhado de tapreba, bacuri ou até priprioca? São apenas alguns dos exóticos ingredientes amazônicos que têm sido usados para capturar um novo sabor frutífero.

O movimento artesanal brasileiro também enfrenta desafios, mas uma coisa é certa: quando há uma vontade de “abrasileirar” algo com muita criatividade, sempre existe um jeito.

 

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Sobre o Colunista:

Ed, inglês de 37 anos, vive em São Paulo desde 2008. É escritor, tradutor e especialista em branding internacional. Sendo pai de dois brasileirinhos, Willoughby e Jasper, ele passa grande parte de seu tempo lhes ensinando os méritos do golfe, rúgbi e críquete.