Inverno em Londres
O fato da palavra ‘inverno’ ter sua origem em termos traduzidos do protoindo-europeu e que significam “branco” ou “molhado” é, no mínimo, indicativo. Dezembro, janeiro e fevereiro são os vilões que fazem com que a luz do dia passe a ser valiosa e a nossa memória coletiva seja marcada pela perseverança das precipitações. Mas, espere aí, o que é aquele aroma remanescente? Picante, ácido, com notas de pinheiro e uma baforada de canela. Quem disse que não podemos sair de casa em dezembro? É Natal!
O Natal é o nosso impulsionador sazonal, a nossa vacina contra a melancolia do inverno. E ainda tem mais: as liquidações pós-Natal, a visita obrigatória aos parentes e, para completar, a euforia da virada do ano. Essa última, apesar de cobiçada por muitos, costuma não ir muito além daquele barulho de fogos de artifício molhados – é como se estivéssemos todos esgotados.
E, então, mergulhamos na ressaca bimestral de janeiro e fevereiro e nos arrependemos dos excessos do ano anterior e juramos abstinência do álcool, do chocolate e de qualquer outra coisa que seja remotamente interessante. Uma nuvem escura paira apaticamente sobre o céu da nossa cidade, que um dia já foi ensolarada. Mas, hoje, o céu é varrido por uma luz cinza. E em um momento de espanto barométrico, somos empurrados para um caos em forma de pó branco. Com o transporte público desordenado, as escolas fecham.
As crianças brincam na neve fresca, com frio até os ossos, mas felizes – mesmo que nos deixe com os dedos inchados e as bochechas rosadas, o frio é refrescante. Os pais, sem forças para resistirem, fazem trenós com velhos tabuleiros de cozinha e tampas de latas de lixo. Poças congeladas racham sob os pés, como que deixando o centro da Terra respirar novamente.
Nenhuma outra estação testa tanto o nosso temperamento quanto o inverno. Ele é intenso em todos os sentidos: eufórico, desolador e repleto de encantos.
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