O trajeto musical brasileiro

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O Brasil é um país cuja produção musical mais famosa nasceu de uma ou mais misturas entre gêneros e estilos, característica predominante até hoje

O cenário musical brasileiro sempre foi marcado por tentativas constantes de se inovar, muitas delas com base em misturas de vários gêneros. Essa miscigenação musical deu origem, no século passado, à Bossa Nova e à própria MPB, que incorporou elementos de música tradicional alinhados a uma infinidade de outros estilos, permitindo aos compositores bastante liberdade para experimentar todo tipo de arranjo.

A partir do século vinte e um os ritmos brasileiros adquiriram bastante influência da música internacional. Nomes como Pitty, Fresno, NX Zero e Charlie Brown Jr foram alguns dos mais famosos da época, inspirados tanto por personalidades nacionais quanto, especialmente, internacionais. Basta lembrar-se dos programas especiais com videoclipes que passavam diariamente na filial brasileira do canal MTV.

Passada essa época, a nação brasileira viu a ascensão de outros dois estilos musicais que, mesmo hoje, ainda fazem relativo sucesso. O Sertanejo Universitário, que não deve ser confundido com a música sertaneja raiz ou tradicional (aquela que floresceu no interior de várias cidades do sertão), alcançou o coração do público jovem com letras sobre amores intensos e efêmeros, traição e temas que se relacionam ao sofrimento amoroso, apelidado de “sofrência” pelos conhecedores do gênero.

O outro estilo, que também sobrevive ainda hoje, é o funk. Muitos tipos de funk foram criados e acabaram no esquecimento, enquanto outros permanecem firmes no mercado musical. Não se vê mais tanto, por exemplo, o funk ostentação, onde era exaltado um alto padrão de vida e, como sugere o título, a ostentação de bens luxuosos. Com o crescimento de cantoras como Anitta, o funk passou também a ser visto como uma possibilidade de enfrentar o sistema, algo que o gênero quase sempre pregou, mas que não teve força o suficiente para se manter por muito tempo. Além disso, as letras sobre empoderamento feminino foram de importância crucial para despertar, por menor que seja, um desejo de independência em muitas mulheres.

Nos últimos 3 anos, a cultura brasileira viu ainda o surgimento de outro estilo, apelidado pelos veículos de imprensa como MPB Fofa ou ainda Nova MPB. Com melodia e letras influenciadas pela música folk, vários artistas dessa nova esfera musical surgiram e estão fazendo sucesso, como Tiago Iorc, Clarice Falcão, Mallu Magalhães, Anavitória e Ana Vilela. Uma das principais influências relatadas pelos musicistas brasileiros do novo modo de produzir música é o cantor e compositor britânico Ed Sheeran.

 

 

Sem muitos rodeios, esses músicos vão ao palco, muitas vezes acompanhados somente por seus violões, e criam ritmos harmoniosos e tranquilos que complementam letras agradáveis, essas que acabam atraindo também famílias inteiras de diversas faixas etárias, daí a origem do apelido de MPB Fofa, que é feita para todas as pessoas de todas as idades.

Muitos desses artistas fizeram sucesso partindo de plataformas acessíveis da internet, como o YouTube. Jovens e cansados de superproduções eletrônicas, os expoentes dessa revitalização da MPB encantam com a simplicidade, leveza e organicidade. A questão que resta é o quanto essa nova onda durará; de acordo com as listas das músicas e álbuns mais escutados no aplicativo Spotify, parece que ainda há muito tempo até que outra mudança brusca aconteça na música brasileira.

Além dessa reconstrução da MPB, algumas bandas de rock mais tradicional também apareceram recentemente, algumas inclusive traçando paralelos junto às novas criações da Música Popular Brasileira. Dentre elas, podemos citar a capixaba Supercombo, a brasiliense Scalene, vencedora do Grammy Latino de Melhor Álbum em Língua Portuguesa, com Éter (2015), a carioca Baleia, o quarteto paulistano E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, que faz bastante sucesso em eventos culturais de associações como o SESC, a cearense Selvagens à procura da Lei, que inclui elementos do tropicalismo em suas músicas, a goiana Carne Doce e a paranaense A Banda Mais Bonita da Cidade.

Outras bandas brasileiras cujo reconhecimento ainda não é dos maiores são a Filarmônica de Pasárgada, que inclui sons pós-modernos como parte de suas músicas (sons do WhatsApp, por exemplo), criando uma mistura bem interessante; Sara Não Tem Nome, projeto da artista homônima que mistura dream pop, MPB, rock clássico e indie; e As Bahias e a Cozinha Mineira, grupo formado na Universidade de São Paulo, em 2011, por Raquel e Assucena, transexuais, e Rafael Acerbi, com letras que buscam elucidar a posição das mulheres na sociedade.

Um fenômeno importante que possibilitou muitas dessas bandas atingirem certo grau de fama foi a popularização da internet, com foco principalmente nas redes sociais. Ainda que isso não necessariamente facilite o reconhecimento por parte do público, o potencial de se conversar com pessoas da indústria é muito grande. Tiago Iorc, por exemplo, decidiu patrocinar e incentivar a dupla Anavitória após ver um vídeo delas na internet.

É imprescindível que a indústria perceba que um dos maiores métodos de divulgação e reconhecimento de novos talentos é a internet. Muitas pessoas talentosas se destacam em plataformas às quais estamos acostumados no cotidiano, como o Facebook, Twitter ou YouTube, mas são esquecidas por falta de incentivo. É através do mundo virtual que outros movimentos, como a MPB Fofa, podem nascer e se espalhar, contribuindo imensamente à cultura musical do país.

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