O Adido Cultural da Embaixada do Brasil em Londres conversou com exclusividade com a BBMag. Hayle Melim Gadelha recebeu a reportagem da BBMag e contou coisas bem interessantes para a Cultura brasileira em Londres
BBMag – Qual é a função da Seção Cultural da Embaixada?
HMG: A promoção da cultural brasileira entre o público estrangeiro é uma das muitas atribuições das Embaixadas brasileiras mundo afora. Na minha visão, esse trabalho deve considerar a enorme diversidade de expressões culturais e artísticas do País, tentando ir além dos estereótipos e da produção concentrada nos principais centros urbanos do país. Claro, não negando esses estereótipos, porque muitas dessas expressões são importantes, são manifestações de valor. Mas porque vários deles já têm uma promoção espontânea. Então, a nossa ideia é promover um Brasil que ainda não é conhecido aqui e que em minha opinião é de uma riqueza, de uma pluralidade e de uma densidade cultural fantástica.
BBMag: Quais são as novidades deste ano na Seção Cultural da Embaixada?
HMG: Por ser o ano das Olimpíadas, o Brasil desfrutará de uma visibilidade toda especial. Teremos uma programação de exposições ininterruptas, tanto na Sala Brasil – que é o nosso salão nobre, onde hospedamos as maiores exposições – quanto na Galeria 32. Serão promovidos alguns concertos e vamos dar continuidade ao Clube do Livro, iniciado no ano passado, que consiste na discussão, em inglês, de títulos clássicos brasileiros. Tem sido um sucesso enorme, e outras Embaixadas têm sido incentivadas a replicar este modelo, porque é uma maneira de promover a cultura de um jeito mais profundo e duradouro. Quem vem aqui e discute um livro, fica com um pedaço do Brasil incrustado em si por muito tempo. Outra atividade regular que mantemos é o nosso Cineclube, com sessões quinzenais, nas quais temos observado um público crescente, muitas vezes com a casa cheia. Dispomos de uma sala de projeção para 100 pessoas. Sempre que possível trazemos diretores, produtores ou críticos para discutir os filmes. Além disso, promoveremos, ao longo do ano, concertos, peças de teatro, eventos gastronômicos e relacionados à arquitetura. Ou seja, a ideia é fazer da Embaixada um ponto de trocas, uma referência para todo mundo que se interessa e “pensa Brasil”. Recentemente, tivemos exposições tão variadas quanto a de poesia concreta, a de arte contemporânea de Pernambuco, a de fotos da Amazônia, enfim, do erudito ao popular, do Sul ao Norte do País. Buscamos trazer toda a riqueza e diversidade do Brasil para o público local.
BBMag: Alguns renomados artistas brasileiros, como Gil e Caetano, sempre voltam a Londres, há décadas. Em sua opinião, o artista brasileiro ajuda a promover o Brasil quando faz shows na Inglaterra?HMG: Eu não tenho dúvida alguma disso! Entre os artistas que estão baseados aqui, o Thiago Soares, principal bailarino do Royal Ballet, é um bom exemplo. Sempre digo para ele que, de alguma maneira, ele é um Embaixador Cultural do Brasil, pois junto com seu talento, transmite valores importantes do nosso País. É uma pessoa que influencia o balé mundial e que garante associações positivas para a imagem do Brasil. Isso é algo que deve ser estimulado, pois a imagem de uma nação pode resultar em incremento no turismo, aumento do comércio, pode angariar simpatia para os nossos cidadãos onde eles estiverem e, mesmo, para as causas defendidas pelo Brasil em organismos internacionais. Acho que essa diplomacia pública, o engajamento da sociedade local, contribui enormemente para a construção de uma marca Brasil, de uma percepção favorável para o País.
BBMag: O senhor acredita que o Brasil ainda não é muito conhecido na Inglaterra?
HMG: Com certeza poderia ser mais conhecido… No Reino Unido, o Brasil é muito menos popular, culturalmente, do que em outros lugares. Se nós formos para os países da Europa Continental, o Brasil é muito mais reconhecido do que na Inglaterra. A língua, talvez, seja uma das principais razões que levam a isso. Esse potencial a ser realizado, torna o nosso trabalho ainda mais desafiador, já que Londres é, provavelmente, a capital cultural do mundo contemporâneo, que irradia e emana tudo o que aqui acontece. Eu costumo dizer que o trabalho da Embaixada em Londres vai muito além da relação bilateral entre Brasil e Reino Unido; a partir daqui, temos uma vitrine para o mundo, porque Londres é, de fato, um ponto nodal das redes midiáticas, das redes acadêmicas, redes de cooperação tecnológico-científicas e, sobretudo, das redes de trocas culturais. Então, o que se faz aqui tem uma reverberação muito especial.
BBMag: Anualmente, a Embaixada abre processo para submissão de projetos culturais…
HMG: O nosso propósito não é apresentar nada complicado. Ao contrário: são diretrizes bastante simples de como a Embaixada pode apoiar iniciativas culturais de quaisquer pessoas interessadas em promover qualquer aspecto da cultura brasileira, não apenas em Londres, mas em todo o Reino Unido. Tradicionalmente nós temos apoiado eventos e projetos de várias maneiras, inclusive com recursos financeiros. Desde o ano passado, com a crise orçamentária pela qual o Governo vem passando, nós temos enfrentado dificuldades em fazer grandes aportes para projetos culturais. Por outro lado, temos uma equipe empolgada e com muita vontade de realizar, o que acaba compensando alguma dessas limitações orçamentárias. Certamente podemos apoiar por meio da divulgação e promoção de eventos. Nós temos uma capilaridade notável, seja por meio de nosso site, do Facebook, Twitter, mailing list, newsletter, etc. A Embaixada dispõe de um espaço privilegiado, com uma localização excepcional, que nos permite manter uma intensa programação, de grande qualidade. O trabalho de seleção dos projetos recebidos é bastante difícil, mas nós temos um Conselho Curador, com pessoas especializadas em diferentes áreas da cultura, que nos ajuda a escolher, entre os vários projetos recebidos, aqueles que terão espaço na Embaixada no ano seguinte. Costumamos receber até outubro de cada ano os projetos para o ano seguinte.
BBMag: Como o senhor vê a chegada da Bossa Brazil Magazine no Reino Unido?
HMG: Eu não poderia ver com melhores olhos, porque vem preencher uma lacuna importante. Não tenho dúvidas de que pode favorecer esse trabalho da Embaixada da construção de uma imagem rica, plural, e positiva do Brasil. A cultura brasileira é de uma diversidade única. Como mencionei antes, tem um potencial enorme para ser descoberta e admirada pelo público britânico. Com esse nome fantástico – que traz em si um dos casos mais exitosos de exportação da cultura brasileira, do jeito de ser, do estilo de vida brasileiro –, eu acredito que a revista Bossa Brazil tem muito a contribuir. Eu espero que sejamos parceiros nessa empreitada de mostrar o Brasil para os britânicos, e vocês podem contar comigo e com a Embaixada para tornar esse projeto efetivo e muito bem-sucedido.
BBMag: Qual é a mensagem principal que o sr. gostaria de passar aos leitores da revista?
HMG: Nessa busca para promover a cultura brasileira, temos tentado mostrar que as dimensões e a diversidade cultural, étnica, religiosa, de hábitos e credos brasileiros, ensejam um ‘caldo cultural’ de uma riqueza fantástica. No Brasil, têm sido produzidas muitas coisas novas. Temos uma cultura jovem, que traz uma mescla muito valiosa. Acredito que os britânicos têm conseguido ir além da visão estereotipada do Brasil, e se beneficiado de nossa riqueza cultural única. Um exemplo bem-sucedido de exportação da cultura brasileira é o Museu de Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais, o maior museu de arte contemporânea a céu aberto do mundo e, em minha opinião, o melhor. Um museu de primeira classe, cuja visitação eu recomendo a todos os britânicos que vão ao Brasil, depois, é claro, de apreciar a minha cidade – o Rio de Janeiro.
BBMag: O senhor pode contar alguma curiosidade cultural aos nossos leitores?
HMG: Sim, venho estudando algo muito interessante! A primeira exposição de arte brasileira na Europa foi hospedada na Royal Academy of Arts, em 1944. Foram doados 168 quadros dos maiores pintores modernos brasileiros; entre eles Portinari, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Iberê Camargo, Volpi. Como forma de reconhecimento pelos esforços ingleses na Guerra, eles doaram seus quadros para serem foram leiloados em favor da Força Aérea Britânica. Isso em plena Segunda Guerra! Ainda caíam bombas em Londres e esses quadros estavam sendo expostos na Royal Academy of Arts. Quase ninguém sabe que o Brasil foi o único país sul-americano que mandou tropas para lutar na Segunda Guerra. Mais de 25,000 soldados! E, além disso, enviamos também nosso “soft power”, por meio das 168 obras de arte que cruzaram o Atlântico infestado de submarinos inimigos.
BBMag: Muito bacana isso, principalmente para as pessoas mais jovens, que não sabem o quanto deve ter sido difícil fazer uma exposição de arte brasileira naquela época…
HMG: Sim, foi durante a Guerra! E venderam a metade dos quadros! Um projeto da Embaixada é resgatar a memória dessa história. Na próxima edição da BBMag podemos aprofundar esse assunto. Até lá, contem conosco para o que vocês precisarem!