A arte do Lambe-lambe

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Um dos maiores expoentes brasileiros do Lambe-lambe é o Luis Bueno. Que tal conhecer a técnica e o artista um pouquinho mais nessa entrevista exclusiva?

BBMag: Onde e quando você nasceu?

LB: Nasci em Guararema, São Paulo, em 1980. Vivo na capital paulista há 15 anos.

BBMag: Como começou o seu amor pela arte e quais foram as suas maiores influências?

LB: Sempre gostei de desenhar. Lia muitos quadrinhos também. Na adolescência comecei a estudar desenho e um pouco de técnica de pintura. A partir disso passei a me interessar mais pelas artes plásticas, no sentido mais tradicional, pintura, escultura etc. Estudei a obra dos grandes mestres renascentistas e me apaixonei pela obra de Monet e Van Gogh, que conheci através de encartes sobre artes que faziam parte de uma revista de fofocas. Como eu conhecia o dono da banca de jornais, comprava só o encarte sem precisar levar a revista, que era muito ruim. Quando ingressei na Universidade (fiz Design Gráfico na UNESP, em Bauru, interior de São Paulo) pude estudar história da arte e aí conheci alguns artistas que me marcaram bastante, em especial Marcel Duchamp e Andy Warhol.

BBMag: Explique um pouco a sua técnica “lambe-lambe”.

LB: É uma linguagem que nasceu a partir da colagem de cartazes, que era uma mídia muito utilizada desde o século dezenove, como uma forma de comunicação urbana. Ainda hoje existe o que chamamos de lambe-lambe tradicional: cartazes anunciando eventos, colados nas ruas – mas nos últimos anos o universo do lambe-lambe se expandiu muito. Artistas, escritores, fotógrafos… Muita gente tem usado esta técnica.

BBMag: Com que outras técnicas você trabalha?

LB: O lambe-lambe é minha técnica principal colagem de papel sobre muros, paredes etc (em inglês costuma-se chamar de “paste-up”). Costumo pintar sobre a impressão com tinta acrílica (geralmente imprimo em preto e branco). E acabo somando uma técnica à outra.

BBMag: Fale sobre o surgimento da ideia da arte “lambe-lambe” e onde se encontra o Pelé Beijoqueiro com David Bowie.

LB: Antes de trabalhar com lambe-lambe, eu passei por outras técnicas, como o stencil e o graffiti. O lambe-lambe era uma maneira de juntar o trabalho com a imagem digital (que é algo que veio do meu repertório como designer) e a arte de rua. Percebi que poderia mixar imagem digital, pintura e arte de rua. A arte de rua é muito efêmera: fiz quatro versões do Beijoqueiro com o Bowie aqui em São Paulo, mas todas elas já foram apagadas ou cobertas por outras coisas ou porque o suporte onde elas foram feitas não existem mais. Mas há uma versão no Rio de Janeiro, próximo à escadaria do Selaron, no bairro da Lapa.

BBMag: Qual a próxima personagem que o Pelé Beijoqueiro irá beijar?

LB: Não sei. A lista que tenho na cabeça é grande, mas no momento ainda não escolhi a próxima.

BBMag: Em que outros países se pode apreciar o seu trabalho? Alguma exposição planejada?

LB: Como disse, a arte urbana é bastante efêmera. As peças que colei em outros países (Inglaterra e Chile especialmente, onde colei várias peças) provavelmente já não estão, pois foram coladas em 2015 e 2016. O interessante do lambe-lambe é que permite que as peças sejam coladas por outras pessoas. Neste ano uma amiga colou alguns do Pelé e de outros trabalhos em Barcelona e em Paris. Em Buenos Aires também, pelas mãos de outros amigos. Mas espero poder colar fora do Brasil em breve.

BBMag: Vemos você como um modelo a ser seguido por muitos jovens interessados em arte, porém sem condições financeiras para tal. O que você diria a eles?

LB: Existem muitas formas de estudar artes. Para quem vive nos grandes centros, recomendo estar atento às oficinas e cursos gratuitos de algumas instituições (em São Paulo há os SESC, que são centros de excelência na democratização do acesso às artes). A internet oferece uma infinidade de conteúdos educativos, vídeos tutoriais, canais especializados em pintura, ilustração, história das artes etc. Às vezes gostaria de ser adolescente de novo, pois na minha época o acesso à informação era muito mais restrito – para conhecer Van Gogh tive que recorrer à revista Caras! Hoje há um banco de informações enorme à disposição. Fora isso, acho importante buscar conhecer o trabalho dos artistas em atividade – que também é muito mais acessível através das redes.

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