Finalmente abril chegou. Presumivelmente, o fim da estação de chuvas para a região sudeste do Brasil. Veremos: o tempo não é mais aquele, é preciso levar um guarda-chuva e um casaco ao sair, por uma questão de segurança. O Rio de Janeiro é maravilhoso e de tirar o folego, mas quando chove… O texto que se segue foi publicado na The Umbrella, uma newsletter para a comunidade local (Rio de Janeiro) que fala Inglês.
Algumas experiências se transformam rapidamente em lições: nunca planeje ficar no Rio de Janeiro durante as férias em janeiro. Chove. Melhor ainda, chove muito. Alguns de vocês vão se lembrar do primeiro festival de música Rock in Rio: George Benson, Yes e um par de sapatos perdido, porque não se desgrudou da lama profunda. Depois do show, a alternativa era pegar um ônibus para São Paulo e passar o resto dos dias de lazer à beira de uma piscina na casa de uma prima. Não foi uma opção. Jovem e agitado, nenhum outro lugar se compara ao Rio, mesmo quando há aquele camarada maluco, surfando as águas que inundaram o Baixo Gávea.
Um mistério a ser solucionado quando chove: de onde vêm todos esses vendedores carregando guarda-chuvas? Será que eles se escondem em ruelas sombrias, furtivamente olhando os céus e rezando por nuvens escuras dia sim, dia não? E onde eles guardam seu arsenal? Eles são tão rápidos! De repente pedestres necessitados dão de encontro com eles assim que a primeira gorda e doída gota de chuva se transforma em um borrão na sua elegante indumentária quando você está no centro da cidade para uma entrevista de trabalho.
As mulheres, em geral, sofrem mais a devastação da chuva. Elas usam vestidos leves que desaparecem sob a água. Seus cabelos se transformam em qualquer coisa; as sandálias de saltos altos ficam encharcadas, começam a esguichar e, com a intervenção da sorte, eventualmente, uma das finas correias de couro se arrebenta.
Imagine-se no meio do Largo da Carioca, o furioso vento de verão que vem do mar, as pedras Portuguesas se transformando em sabão – nem vamos mencionar o lastimável trabalho dos caras que colocam as peças brancas e pretas na calçada – a segurança sob as marquises sendo disputadas centímetro por precioso centímetro.
Você tem de pensar rápido: o metrô, um ônibus ou um táxi de volta para casa? Tudo bem, esqueça este último, táxis são uma figura de nossa imaginação numa hora dessas… O cara segurando trezentos e noventa e oito guarda-chuvas em seus braços se aproxima. Será ele confiável? Quanto esse artefato vai custar? Depois de negociar tanto o preço quanto os recônditos de sua enorme bolsa e, tendo aberto e fervorosamente agarrado a proteção pluvial comprada (de um branco garboso com pequenos gatinhos pretos!), você parte na direção da Avenida Rio Branco para achar um ônibus. Assim que você vira a esquina, o mesmo faz o guarda-chuva – sobre si mesmo.